
A postura da escola diante do tema do autismo
Novembro 19, 2025
Por Aderlan Angelo Camargo – Delegado de Polícia e Autista
Quando recebi o convite de um jovem estudante para participar de um documentário sobre autismo, pensei imediatamente na importância daquele gesto. Não era apenas uma atividade escolar; era uma oportunidade de semear consciência, empatia e conhecimento. O aluno buscava compreender o autismo a partir de diferentes perspectivas — profissionais especializados e, também, de alguém que vive essa condição todos os dias. Aceitei participar como Delegado de Polícia, como autista e, principalmente, como pai de uma criança autista. Levei a sério porque sei o quanto a informação pode transformar realidades.
O documentário seria exibido na escola em três horários distintos, de modo que os alunos pudessem escolher qual apresentação assistir. A ideia parecia democrática, mas, na prática, revelou algo preocupante sobre a postura da instituição em relação a temas de inclusão. Decidi, por óbvio, acompanhar a exibição do documentário sobre autismo. Para meu espanto, apenas cinco pessoas estavam na sala — e somente duas eram alunos. Enquanto isso, os documentários com temas considerados mais “emocionantes”, como “além das grades” e “operação lava jato”, estavam lotados.
Esse cenário expôs um problema recorrente: quando a escola não orienta, não direciona e não atribui valor explícito a temas ligados à inclusão, esses temas se tornam invisíveis. Esperar que adolescentes escolham, por conta própria, assistir a um documentário sobre autismo é desconhecer a própria lógica da adolescência. O jovem vai, naturalmente, buscar aquilo que lhe traz entretenimento imediato; é a escola que precisa educar para o interesse público, para a empatia, para o convívio com a diversidade.
A instituição escolar não pode se limitar à transmissão de conteúdos programáticos. Ela tem a obrigação — ética, social e constitucional — de formar seres humanos melhores. E isso inclui compreender que preparar cidadãos vai muito além de ensinar fórmulas, datas e disciplinas. Envolve construir pontes, derrubar preconceitos, ampliar horizontes e promover debates que transformam mentalidades.
O autismo é um tema urgente. Difundir conhecimento é combater o preconceito, reduzir práticas discriminatórias, criar ambientes mais seguros e acolhedores. Como ativista, vejo todos os dias o peso das narrativas distorcidas, dos estigmas e do desconhecimento. Como pai, sinto na pele o impacto que uma sociedade pouco informada causa na trajetória de uma criança autista. Como autista, percebo como a falta de consciência coletiva nos coloca em posições de vulnerabilidade e isolamento.
Por isso, foi triste perceber que a escola — justamente o espaço que deveria estar na linha de frente da inclusão — permitiu que um tema tão essencial fosse relegado ao fundo da sala. A escolha irrestrita, sem qualquer orientação, resultou em desinteresse. E o desinteresse, nesse caso, não é um simples detalhe: é sintoma de como a instituição falhou em demonstrar o valor daquele conteúdo.
Se queremos formar gerações verdadeiramente preparadas para conviver com a diversidade, precisamos que as escolas assumam uma postura ativa, intencional e comprometida com a inclusão. Porque a transformação social não nasce do improviso — nasce da educação. E educar implica, muitas vezes, direcionar o olhar dos alunos para aquilo que realmente importa.















