
Bullying e Cyberbullying: a falsa sensação de anonimato e o rastro da violência digital
Setembro 9, 2025Por Rodrigo Alessandro Ferreira, Policial Civil e fundador do @rafcyber
O bullying, em sua forma mais conhecida, costuma começar de maneira direta: apelidos cruéis, empurrões no recreio, isolamento proposital de um colega. Para muitos, pode parecer um comportamento restrito ao espaço físico da escola, mas a realidade é bem mais ampla e preocupante. Quando esses ataques atravessam as paredes da sala de aula e invadem o ambiente digital, estamos diante do cyberbullying, que é uma prática ainda mais devastadora porque rompe fronteiras de tempo e espaço, criando formas ainda mais robustas no período pandêmico e pós-pandêmico.
Na internet, o alcance da violência é ilimitado. Uma foto, um vídeo ou mesmo uma frase maldosa pode ser compartilhada em segundos com centenas ou milhares de pessoas, transformando a humilhação em espetáculo público. E diferente do que ocorre presencialmente, no ambiente virtual não existe o refúgio do lar ou do fim do horário escolar: a vítima pode ser atingida a qualquer hora, em qualquer lugar. É um tormento sem pausas, que adoece e isola silenciosamente.
O que alimenta esse tipo de agressão é a falsa sensação de anonimato. Atrás de perfis falsos, apelidos ou contas temporárias, os agressores acreditam que estão imunes, que jamais serão descobertos. Essa ilusão os encoraja a praticar atos que, pessoalmente, talvez nunca ousassem realizar. Além disso, a ausência de uma resposta imediata — como o choro ou a reação visível da vítima — acaba desumanizando a agressão. A tela cria um filtro que apaga a empatia, tornando mais fácil ignorar a dor causada.
Outro aspecto dramático do cyberbullying é sua permanência. Diferente de uma ofensa dita no pátio ou nos corredores da escola, que se dissipa no ar, uma postagem digital deixa rastros quase indeléveis. Mesmo que seja apagada, cópias, prints e compartilhamentos tornam praticamente impossível eliminar todo o conteúdo. Para a vítima, essa perpetuação do ataque é uma forma cruel de reviver a violência continuamente.
Mas aqui está um ponto crucial: ao contrário do que muitos pensam, o ambiente digital não é um território sem lei. A experiência recente mostra que investigações conduzidas pelas Polícias Civis em todo o Brasil têm identificado, localizado e responsabilizado autores de crimes virtuais, incluindo casos de cyberbullying. Perfis falsos, conexões disfarçadas e tentativas de ocultar rastros digitais não têm sido suficientes diante da atuação técnica e especializada das forças de segurança. É um recado claro: a impunidade não é garantida.
Assim, quando menciono “rastro da violência digital”, estou me referindo tanto às marcas emocionais que a vítima carrega quanto às pegadas tecnológicas que permanecem na rede. Esse duplo rastro evidencia que o cyberbullying não termina com um “click” e nem desaparece com a exclusão de uma postagem. Ele deixa feridas, mas também provas — e é justamente nesse espaço que a empatia, a denúncia e a investigação policial encontram força para transformar dor em justiça e acredite nós o encontraremos!
A mensagem que precisamos reforçar é simples: o cyberbullying não é brincadeira, tampouco é invisível. Ele deixa marcas emocionais profundas nas vítimas e também deixa rastros digitais que podem ser seguidos pela investigação policial. A cultura do silêncio apenas fortalece o agressor, mas a denúncia e a conscientização abrem caminho para proteção e justiça.
Proteger crianças e adolescentes desse ciclo de violência exige esforço coletivo. Famílias precisam orientar e supervisionar, escolas devem criar espaços seguros de diálogo e acolhimento, e a sociedade como um todo tem o dever de não naturalizar ofensas online. Afinal, cada compartilhamento consciente, cada denúncia feita e cada palavra de apoio pode ser o divisor de águas entre a dor e a reconstrução.
O bullying, seja entre os muros da escola ou na tela do celular, é um problema social urgente. Reconhecer sua gravidade, expor suas dinâmicas e mostrar que não há anonimato absoluto na internet é parte fundamental da prevenção. Só assim poderemos transformar o ambiente escolar e digital em espaços de crescimento, respeito e segurança.
Rodrigo Alessandro Ferreira | Bullying e Cyberbullying
Policial em Santa Catarina
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