
Doenças Raras e Inexistentes: O Desafio do diagnóstico médico – Por Dr. Jose Sion Cantos
Novembro 25, 2025
É um grande desafio para todo médico diagnosticar uma doença rara.
Existem milhares delas, a grande maioria de causa genética más também podem ter causas infecciosas, autoimunes, ambientais etc.
O portador de uma doença rara geralmente tem sintomas cuja apresentação é diferente das doenças mais comuns, seja na sua intensidade, na sua progressão ou na associação com outros sintomas, sendo assim cabe ao médico usar seu conhecimento e seu raciocínio clínico para desvendar o diagnóstico.
Não conseguir diagnosticar a doença de um paciente causa uma grande apreensão no médico, sabedor de que sem diagnóstico correto é impossível fazer o tratamento adequado.
Anos atrás atendi seu João, um paciente de 55 anos, jardineiro de profissão que há mais de um ano apresentava uma dor de forte intensidade na sua perna esquerda que não melhorava com uso de analgésicos, tinha formigamentos e dormência nessa perna, além de manchas avermelhadas.
As vezes a sucessão temporal de fatos conspiram ao nosso favor, poucos meses antes tinha atendido online uma amiga, residente na Alemanha, com queixas semelhantes embora com poucas semanas de sintomas, essa paciente tinha também dores articulares e as manchas vermelhas (eritema) eram muito mais extensas.
O caso era muito semelhante a uma doença infecciosa rara chamada Doença de Lyme, transmitida por um carrapato bem pequeno do gênero Ixodes.
Perguntei se tinha estado no campo em contato com animais e me contou que justamente estava na temporada de lidar no quintal da sua casa com os montículos de terra que as toupeiras, um roedor subterrâneo, acumulavam todos os dias no seu quintal.
Os carrapatos, comuns nesses roedores, são o vector da bactéria que provoca a Doença de Lyme e que responde ao estranho nome de Borrelia Burgdorferi.
Realizados os testes sorológicos o diagnóstico foi confirmado e a doença controlada com o tratamento antibiótico adequado.
Com João não foi diferente, os testes foram positivos e o tratamento eficaz no controle da doença.
Sem tratamento apropriado, essa doença pode atingir o sistema nervoso central e provocar cardiopatia severa.
No extremo oposto do desafio de diagnosticar uma doença rara se encontra o paciente que, mesmo portador de um quadro clínico desafiador, se apresenta com um diagnóstico já definido por outro profissional.
É o caso de Miguel, portador de dores difusas no corpo que foi diagnosticado de “Spikeopatia” e que estava sendo tratado com um coquetel de drogas e vitaminas.
Miguel foi convencido pelas postagens de um médico “influencer” a realizar uma consulta online com esse profissional, seus sintomas eram compatíveis com o diagnóstico de Fibromialgia.
O médico diz para ele que a causa dos sintomas eram a presença das proteínas “spike” do vírus da Covid 19, essas proteínas são produzidas pelas vacinas de mRNA para estimular a resposta imune contra esse vírus.
Médicos negacionistas das vacinas inventaram uma tal de Spikeopatia ou Síndrome pós-spike e ao mesmo tempo um tratamento com vários medicamentos entre eles a ivermectina.
Na realidade o uso prolongado de ivermectina estava produzindo hepatotoxicidade, as enzimas hepáticas e a bilirrubina estavam aumentadas, explicando a cor escura da sua urina.
Alguns artigos foram publicados sobre a provável nova doença, todos eles retirados pelos editores poucos meses após, devido à falta de evidências científicas de que exista a tal doença.
Se antigamente curandeiros e benzedeiras necessitavam centenas de anos para convencer ao povo que entidades como o “mau olhado” eram verdadeiras, hoje em dia basta uma “live” em que um “influencer” famoso declara que descobriu um tratamento, um remédio ou uma doença para convencer milhares de pessoas.
A mesma internet que nos permite o acesso rápido a informações de qualidade como artigos científicos e outras publicações académicas pode ser refúgio de profissionais mal-intencionados que procuram apenas o lucro fácil sem se preocupar com as nefastas consequências sobre a saúde da população.
Antes de submeter seu corpo às modas da internet é prudente consultar com seu médico de confiança.
Dr. Jose Sion Cantos
Brusque, 25 de novembro de 2025




















