O que é o Bullying? Prevenção e Resposta em Tempos de Urgência: O Caso de Alto Araguaia (MT)

O que é o Bullying? Prevenção e Resposta em Tempos de Urgência: O Caso de Alto Araguaia (MT)

Agosto 7, 2025 0 Por Redação

 

 

 

Por Rodrigo Alessandro Ferreira, Policial Civil e fundador do @rafcyber

A cada novo caso de violência entre estudantes, nos vemos diante de perguntas que se repetem: onde estavam os adultos? Como ninguém viu? E o que, de fato, estamos fazendo para garantir que nossas escolas sejam ambientes seguros para crianças e adolescentes?

No início de agosto, um episódio ocorrido em uma escola de Alto Araguaia, no Mato Grosso, causou indignação nacional. 4 estudantes (entre 11 e 14 anos) agrediram brutalmente uma colega, criando um “tribunal do crime” dentro da instituição. O motivo: um desentendimento por causa de um sorvete (geladinho). A agressão foi filmada por um celular, circulou nas redes sociais e, após repercussão, levou à internação de três das agressoras em unidade socioeducativa, conforme decisão judicial.

Casos como esse acendem um sinal de alerta. O vídeo da agressão foi captado por um celular que, em tese, não deveria estar sendo usado dentro da escola. Diante disso, é inevitável a pergunta: essa escola possuía câmeras de videomonitoramento internas e externas? Existiam protocolos de prevenção? Havia uma cultura institucional de escuta e acolhimento?

A prática do bullying e os crimes virtuais vêm se sofisticando — e crianças e adolescentes tornaram-se ainda mais vulneráveis. A violência escolar, que já foi ignorada ou relativizada por muito tempo, hoje exige ação. E mais do que punir, é preciso proteger. Mais do que reagir, é preciso prevenir.

Falar sobre bullying, portanto, é enfrentar uma realidade que se manifesta de diversas formas: na exclusão social durante o recreio, nas ofensas constantes em grupos de mensagens, nas humilhações que se tornam memes e viralizam (cyberbullying). Tudo isso compõe um ciclo de violência silenciosa, porém devastadora.

O termo “bullying” refere-se a qualquer intimidação sistemática, repetida e intencional, praticada por um ou mais indivíduos contra alguém em situação de vulnerabilidade. Ele pode ser físico, verbal, psicológico ou digital (o chamado cyberbullying). A Lei 13.185/2015 instituiu, em nível nacional, um programa de enfrentamento a essa forma de violência, reconhecendo que ela não se restringe a conflitos pontuais — trata-se de um padrão relacional destrutivo, que deve ser interrompido por meio da informação, da escuta e da ação integrada.

Como policial civil atuando há mais de uma década em Santa Catarina, aprendi que a prevenção também é proteção. E que o combate ao bullying não se faz apenas com sanções disciplinares ou boletins de ocorrência, mas com políticas de cuidado e responsabilidade compartilhada.

 

Por isso criei o projeto @rafcyber, que nasceu da inquietação diante do que eu via em investigações envolvendo adolescentes, ameaças escolares, aliciamento online e quadros de automutilação. No @rafcyber, trago conteúdo educativo, técnico e acessível para pais, estudantes, educadores e gestores. A missão é clara: prevenir a dor antes que ela vire tragédia.

Combater o bullying exige mais do que cartilhas ou discursos prontos. Requer a presença ativa dos adultos, o fortalecimento da confiança dentro do ambiente escolar e a criação de canais permanentes de escuta. É preciso que as escolas promovam a formação continuada de seus profissionais, que as famílias estejam atentas (mantendo sempre em mente a responsabilidade maior dos pais) e que os alunos compreendam os limites entre convivência e violência.

Também é essencial integrar a escola à rede de proteção, incluindo conselhos tutelares, psicólogos, assistentes sociais e forças de segurança. A responsabilidade não é de um único setor. Quando uma criança sofre violência, a omissão coletiva é que falha.

E, por fim, é urgente incluir no currículo escolar a educação socioemocional: ensinar empatia, cooperação, regulação emocional e resolução pacífica de conflitos é tão essencial quanto ensinar português ou matemática.

Casos como o de Alto Araguaia mostram que, se o bullying for tratado com descaso ou negado, ele evolui. E a escola, que deveria ser espaço de construção de cidadania, pode se tornar cenário de trauma.

A violência escolar pode mudar de forma, mas nossa resposta precisa ser constante: proteger é dever de todos nós.

Que possamos construir juntos uma cultura de paz — e não apenas reagir quando o dano já foi feito.


Rodrigo Alessandro Ferreira | Bullying e Cyberbullying
Policial em Santa Catarina
linktr.ee/rafcyber