Uso excessivo de celulares na infância e adolescência eleva o risco de estrabismo

Uso excessivo de celulares na infância e adolescência eleva o risco de estrabismo

Fevereiro 4, 2021 Não Por Redação

 

 

O número de casos cresceu durante a pandemia e reduzir o tempo de exposição a esses aparelhos e a consulta ao oftalmopediatra é a melhor forma de prevenir o desalinhamento dos olhos, distorção que afeta a saúde ocular e a vida social.

 

O uso de celulares na infância durante horas– hábito que se acentuou na pandemia da Covid 19 aumenta o risco de a criança desenvolver estrabismo convergente (ou esotropia), doença na qual os olhos ficam desalinhados, com desvio para dentro. Se essa distorção não for diagnosticada a tempo e tratada adequadamente, poderá causar sério dano à visão, além da alteração estética, com relevante impacto psicológico e social. O longo período de exposição às telas, em geral, também está associado ao surgimento e aumento do grau de miopia. Portanto, o melhor é prevenir, com consultas regulares ao oftalmopediatra. E o cuidado com a saúde ocular deve começar ainda no pré-natal, quando é possível detectar e controlar problemas oftalmológicos, como, por exemplo, toxoplasmose, sífilis e herpes, que colocam em perigo a visão do feto.

Em relação ao estrabismo, um estudo científico para investigar sua relação com a utilização de celulares, publicado na revista “BioMed Central (BMC) Ophthalmology”,comprovou que crianças que manusearam smartphones por mais de quatro horas diariamente por, no mínimo, quatro meses, apresentaram maior risco de estrabismo. Outras pesquisas oftalmológicas indicam que o estrabismo convergente – a distorção mais comum – pode acometer também os adolescentes. Casos nesse grupo etário foram relatados em diferentes artigos no “Journal of Pediatric Ophthalmology & Strabismus”. Uma dessas investigações foi realizada com pacientes na Itália, durante o necessário isolamento por conta da Covid-19.

“Na pandemia, temos diagnosticado no consultório um maior número de casos de estrabismo convergente. Esse fenômeno tem acontecido em outros países, como no Japão. Quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento, melhores serão os resultados. E isso vale para qualquer doença dos olhos“, diz a oftalmopediatra Dra. Cassiana Parise, do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, empresa do grupo Opty.

Ela esclarece que há diferentes tipos de estrabismo– alteração que acomete 5% da população infantil mundial e que pode atingir um ou ambos os olhos. E suas causas, além do uso excessivo de celulares, podem estar relacionadas a algum dano nos músculos que controlam o movimento ocular, lesão no nervo óptico, entre outras. “É normal algum desvio dos olhos até por volta dos seis meses de idade. Porém, se permanece depois dessa fase, deve-se consultar um oftalmopediatra”, assegura.

E explica por fim a Dra. Cassiana: “Com a falha, os olhos não focam a imagem no mesmo sentido, ao mesmo tempo, o que pode levar à diminuição da visão, perda da percepção de profundidade e visão dupla. Daí a importância de iniciar a correção assim que possível, que inclui o uso de óculos, tampão, exercícios para os olhos ou cirurgia”; acrescentando que “a negligência com a saúde ocular nos primeiros anos afeta o desenvolvimento psicomotor e a capacidade de comunicação”.

Ainda sobre o tempo gasto diante das telas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reitera a necessidade, mesmo durante a pandemia, do controle por parte dos pais ou dos responsáveis das horas passadas pelos seus filhos em dispositivos digitais.

Com o imprescindível isolamento social na pandemia, as crianças e os adolescentes estão assistindo às aulas em computadores, tablets e outros dispositivos eletrônicos, passando assim horas de olhos grudados na frente das telas. Até mesmo as escolas que reabriram com atividades presenciais ainda estão utilizando mais as ferramentas virtuais para o ensino a distância. E tanto esforço pode afetar a saúde ocular, com prejuízo no aprendizado. Se o aluno já sofre de algum problema de vista, terá desinteresse, falta de concentração e maior dificuldade para compreender o conteúdo. O que para muitos pais ou responsáveis parece preguiça de estudar, pode ser resultado de alguma deficiência visual. Por isso, a consulta prévia a um oftalmopediatra é essencial para detectar e tratar qualquer doença dos olhos.

Ao nascer– Já no pós-parto, os recém-nascidos precisam passar pelo “teste do olhinho”; um exame fundamental para investigar alterações que exigem intervenção médica urgente, tais como catarata (maior incidência em bebês cujas mães tiveram infecção) e glaucoma congênitos (um sinal é a fotofobia), e retinoblastoma (tumor na retina, área que gera as imagens).

Primeira consulta– Até completarem dois anos de vida, os bebês, com sintoma ou não de problemas de vista, precisam, a cada seis meses, ser levados ao oftalmopediatra. Após essa idade, se estiver tudo bem, a criança deverá ser examinada anualmente até os dez anos. Isso porque são na fase pré-escolar (dos 4 aos 6 anos) e na segunda infância (dos 6 anos à puberdade) que costumam aparecer os erros de refração (miopia, astigmatismo e hipermetropia, males que podem ser hereditários).

Sintomas de miopia – A visão de longe é borrada – Em um olho normal (sem grau ou emétrope), a luz primeiro passa pela córnea (a lente externa), pela pupila (estrutura que controla a quantidade de luz que chega ao interior do olho) e pelo cristalino (lente interna), sendo direcionada à retina. Na miopia, a visão de perto é boa, mas fica embaçada de longe. Ocorre quando o comprimento do olho é maior que o normal, a córnea é muito curva ou quando o cristalino tem formato, espessura ou posição anormais. A correção pode ser feita com óculos, lentes de contato, cirurgia a laser e implante de lentes intraoculares (para graus maiores). Assim que possível, é preciso oferecer mais tempo de atividades ao ar livre às crianças, no mínimo 40 minutos diários. Pesquisas recentes sugerem que a luz do sol ativa a produção da substância dopamina (um mensageiro químico do sistema nervoso), que, entre outras funções, atua para evitar o crescimento além do normal do globo ocular, reduzindo, assim, o risco de miopia ou piora desse erro refrativo. Outros estudos indicam que a luz do sol estimula a fixação de vitamina D, que parece ter papel importante na visão. Muitos estudos tem relacionado o aumento da miopia com o uso excessivo de eletrônicos, especialmente os de perto (tablets e celulares), por isso é tão importante limitar seu uso!

Sintomas de hipermetropia – De perto a criança vê tudo borrado – Na hipermetropia, as visões de longe e de perto são embaçadas. Acontece quando o comprimento do olho é menor que o normal, a córnea é muito plana ou o cristalino tem formato, espessura ou posição anômalas. Ademais,a luz que entra não é focada corretamente na retina, deixando os objetos borrados. O principal fator é a herança genética. E a criança e o adolescente têm queixas de cansaço ou desconforto ocular após esforço prolongado de visão para perto; dor de cabeça e dificuldade de concentração. A correção pode ser feita com óculos, lentes de contato, cirurgia a laser e implante de lentes (graus elevados).

Sintomas de miopia – Tudo parece meio turvo para a criança – No astigmatismo ocorre a perda da nitidez da visão em diferentes graus devido a irregularidades da superfície das lentes do olho. Com o defeito, a imagem chega à retina distorcida e dividida. E a visão fica borrada de longe e de perto. Em pouco grau, normalmente não atrapalha e nem sempre precisa de correção com óculos, lentes de contato ou cirurgia. É comum estar associado à miopia ou à hipermetropia. Geralmente, é herdado.

Ambliopia – A ambliopia, isto é, a baixa de visão, também conhecida como olho preguiçoso, acontece quando o cérebro estimula mais um olho que outro e eles não atuam em conjunto.

Mariana Woj – Jornalista